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Fragmentos I

Você era um guarda-chuva. Aquele guarda-chuva que a menina do teatro de rua queria abrir mesmo que fizesse sol e o guarda-chuva que faltou na tua volta até o carro naquele dia em que a chuva aumentava enquanto você corria me dizendo que "sim, te aviso quando chegar em casa, mas acho que você vai estar dormindo". Demorei a dormir. Fiquei pensando em tudo, do mesmo jeito que penso agora enquanto escrevo. 

Das coisas nunca ditas II

Pensava na vontade incontrolável que batia no peito às vezes. Uma vontade de fugir, de deixar tudo para trás. Sabia que essa sequência de fugas ainda a condenaria à solidão. "Ser livre é, frequentemente, ser só", afinal. Pensou nas pessoas que abandonou, nas coisas que deixou de viver, nos amores que sufocou, nas palavras que não disse e nas borboletas que matava em seu estômago a cada vez que fugia. Alguma coisa tinha mudado. Assim, sentou e escreveu: "Às vezes me bate aquela irresistível vontade de te deixar para trás, mas, agora, ainda mais irresistível é a vontade de seguir adiante contigo."

Das coisas nunca ditas I

"Me distancio às vezes, pareço um tanto relapsa, mas é que tenho medo. Tenho medo de me empolgar demais e depois quebrar a cara. Tenho medo da tua empolgação não ser comigo e sim com a ideia de que meu abraço te sirva como uma espécie de anestésico para dor que tu sentias pelo pedaço que te faltava - e que talvez ainda falte. Não, não é uma sensação nova ou desconhecida. É aquele mesmo aperto na garganta e o frio na barriga que há algum tempo eu não sentia. Talvez por esta ser uma sensação há tanto conhecida é que tenho medo. Mas o fato de tantas vezes ter gostado do torto, do que é complicado demais para viver ou seguir, de tantas vezes ter ido na contramão, hoje faz com que eu consiga reconhecer quando algumas coisas são diferentes. Quando esse diferente é uma mudança pra melhor. Sim, eu sei que vai ser. Isso desde que meu abraço não te sirva apenas como placebo, desde que tua vontade de rir das minhas bobagens não seja proporcional à vontade de esquecer ou não pensar em alg

das escolhas

Escolhi uma profissão que não me escolheu, me apaixonei e ela nunca me deu bola. Uma outra me escolheu (ou escolheram pra mim) e eu até hoje não sei o que sinto por ela. Eu tinha duas alternativas e nenhuma das duas era suficiente. Se ficasse só com uma, ia seguir pela metade. Concluí que não sei direito o que quero, porque quero uma coisa que ainda não existe. Só me resta inventar um novo rumo, porque ninguém disse que ia ser fácil.

Das cartas não enviadas I

E agora tudo o que ouço é aquela frase piegas e clichê que fala de um blá blá blá onde as coisas acontecem quando tem que acontecer. É nisso que me agarro pra ter esperança no que parece impossível e também é o que me serve de consolo quando tudo dá errado (como agora). "Se não foi, é porque não era pra ser. Agora segue o fluxo", disse aquela minha amiga meio hippie quando contei de mais um episódio da novela mexicana que insisito em chamar de vida. Era pra ser assim, então. Estava tudo escrito, né? Até nome composto meus pais me deram para que eu não me desviasse do meu destino de viver dramas bizarros até encontrar o tal final feliz... Eu sei, reclamar não vai mudar nada. Meu consolo é que ao menos meus dramas divertem quem não vive nele.  Passada a fase shelelê onde mentalizo luzes azuis e violetas, é hora de mentalizar que o cara é um idiota, mesmo que ele não seja (porque eu sei que não é). Aí sumo como fiz das outras vezes, mas talvez responda as mensagens que ele

Sobre amor e força

Me pediram pra escrever um texto sobre a vó Olívia. Fiquei um bom tempo pensando no que escrever. Eu poderia dizer que dona Olívia Mayer Laurindo nasceu no dia 12 de junho de 1935, em Armazém. Casou com José Osório Laurindo no dia 31 de julho de 1953, ficando casada com ele por 48 anos até ele falecer em 2002. Eles tiveram 10 filhos, 15 netos, 5 bisnetos. Uma família muito bonita, diga-se de passagem.... Bom, seria muito mais fácil e menos dolorido escrever um texto assim, bem objetivo. Sem muito sentimento e com um distanciamento confortável pra não doer nas lembranças. Mas faltava alguma coisa. E foi aí que eu vi que seria inevitável. Se eu quisesse realmente falar do que a dona Olívia significa pra gente, ia doer. Porque lembrar dói mesmo. Escrever às vezes dói. É bom, mas quando a gente fala de alguém que foi embora, machuca. E eu sabia que não ia doer só em mim, mas em todo mundo que ouvisse. Saí pesquisando histórias e coisas que cada um lembrava dela. Alguns lembrav

Sobre quando me perdi

E um dia você me fala qualquer coisa que me faz perceber: me perdi. Assim, sem nem saber de mim, sem nunca me olhar nos olhos, me dá um tapa na cara e me faz acordar. Me pergunto agora por onde tenho andado e há quanto tempo sigo vago, vagando, oscilando entre o que eu era, o que eu acredito e o que (não) sou agora. E quando foi que passei a temer o que pode me trazer o riso.

Sobre o amor libertário

Amar: palavra que termina com o ar que a gente perde quando vê o ser amado, quando sabe o que é ser amado. Começa com a primeira letra do alfabeto, como quem diz: "Sou o amor e te darei muitas palavras e histórias pra contar daqui pra frente". Beijos, chamegos e carinhos, dengos... E se eu amar em inglês? Love. Troque a segunda letra por "i" e descubra que amar é viver... e é aí que começa o drama. Aí que começam as minhas teorias (nem tão) revolucionárias sobre o amor e os "relacionamentos sérios" . Pura e simplesmente porque tem gente que confunde "amar é viver" com "amar é vivermos um a vida do outro". Sou uma daquelas pessoas que acreditam no amor. O amor puro e simples. O amor que não carrega os estigmas aos quais a maioria dos relacionamentos atuais estão condenados. O amor sem correntes, o amor que te faz voar. Amor pela revolução, amor que revoluciona a vida e que te faz viver, querer sempre mais. Que te dá a liberdade de qu

Rosa linda, bela flor

Roseli: Bela Flor.  Rosa linda, Roseli.  Cultivando rosas no jardim, e sorrisos no rosto. Ah, madrinha! Que difícil foi te ver hoje assim, coberta de rosas vermelhas. Que difícil foi pensar há quanto tempo eu não te via, há quanto tempo eu adiava uma visita, há quanto tempo eu dava a desculpa da falta de tempo. E quanto tempo a gente vai ficar sem ver teu sorriso de novo. Minha madrinha, que eu quando criança achava que era fada. Adivinhava sempre o que eu queria. Lembro da última vez que ouvi tua risada no telefone me desejando muitos anos de vida. Aquela gargalhada tão gostosa. Fiquei pensando nisso enquanto via todas aquelas flores e toda aquela gente que já sentia tua falta. Só o que posso fazer agora é te dedicar essas linhas e uma rosa vermelha. Rosa vermelha do amor, da coragem. Rosas para uma bela flor. E coragem pra gente que fica e segue sem ti.

Ausência

"Mas não te procuro mais , nem corro atrás. Deixo-te livre para sentir minha falta, se é que faço falta … Tens meu número, na verdade, meu coração , então se sentir vontade de falar comigo ou me ver,  me procura você . " Caio f.

Pra se perder

Ciúme eu que achava que era imune descobri que não sou mais - Você é normal, afinal... Sempre achei estranho esse negócio de sentir sem tamanho mas não sentir assim, nenhum medinho nada, um tantinho de perder Per der o que? O que nunca tive? Coisa mais sem sentido Ciúme do que não foi perdido mas que também não é meu que da minha parte é querido mas e da outra parte? Perigo Perigo de não saber dizer se é sim ou se é não Perigo de não querer o que tem nome doce coração Rima minha é rima torta mas que sirva de aviso se não quer ficar, que vá embora de vez e não me venha mais com teu sorriso que minha parte é querido mas tua parte é o que? amigo só isso "Pra se perder no abismo que é pensar e sentir" Los Hermanos

Amor é fogo que arde sem se ver

E continuava brincando com fogo. Mas fogo é imprevisível: aquece e conforta, mas também machuca quem não toma cuidado. O vendaval que der na telha faz a chama se alastrar, destruir o que servir de combustível. Aparece perigoso em um momento e, numa mudança de vento, vira brasa. Acaba, vira pó. Deixando um rastro de cinza e fumaça. - Avisa ele, menina! Avisa que brincando com fogo vai acabar se queimando...  Pois é, avisei. E quem não sabe brincar ou se queima ou faz o fogo se apagar.

Porque eu gostava de escrever

Era uma dessas manhãs de segunda-feira em que, só pra variar, eu chegava atrasada na aula. Eu pensava que ia fazer aquela disciplina só por fazer, porque era obrigada, e sabia que possivelmente eu não iria seguir a profissão na qual iria me formar. Pois é, indo até o fim de um curso de quatro anos para não trabalhar naquilo.  Uns diziam que era loucura, perda de tempo. Outros me perguntavam o porque de insistir em algo que eu mesma sabia que não tinha muito futuro. A verdade é que eu não sei, nunca soube. Talvez eu não tivesse mesmo a ver com essa coisa de apuração e reportagem, mas mesmo correndo o risco de não usar nada daquilo depois, eu permanecia ali. Era como um vício do qual eu não conseguia me libertar. Quanto mais eu tentava fugir, mais perto do final e mais "presa" àquilo eu estava.  A sensação que eu tinha é que eu era a mulher traída, mas perdidamente apaixonada pelo traidor. Pensar naquilo como uma profissão me deixava um tanto perdida, da mesma forma

Porque eu gostava de ler

Tem um vazio tão grande aqui dentro, como se me faltasse inspiração... Mas não, só faltam as palavras escreve apaga escreve escreve apaga pára Será que desaprendi a sentir? Ou foi essa tal de objetividade que calou o que eu sentia antes de tudo isso começar?

Marcas

Foi embora do mesmo jeito que veio: em silêncio, devagar. Um dia eu acordei e vi que não havia sobrado mais nada. Te encontrei e você pareceu mais longe, um tanto fora de foco. Aquele frio da barriga se escondeu no bolso do meu casaco e o coração não correu pra boca por achar o peito um lugar mais confortável, por achar que não havia mais nada a dizer. Eu tinha um monte de expectativas, achava que teria um fim rápido e dolorido como outrora, mas não. Foi uma dor parecida com aquela que você sente quando faz uma tatuagem: contínua e de baixa intensidade. Você sofre um pouco no começo, depois se sente apenas desconfortável, em seguida se acostuma com ela e quando vê, passou. A tatuagem está pronta, o amor foi embora. Ficou só uma marca que vai estar sempre ali. Com o tempo você olha para o que ficou e quase não lembra mais da dor. Ela vai parecendo muito menor e você quer outra tatuagem, sem se importar se vai sofrer de novo ou não. Vai colecionando marcas, que algumas vezes doem mai