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Pausa pro café

Sem querer, acabei te procurando numa das rodas de conversa que se formaram. Busquei a tua voz no meio das outras e, entre as pessoas sentadas naqueles bancos gelados de concreto, quis te encontrar com as pernas cruzadas e as mãos entrelaçadas sobre os joelhos, rindo de algo ou contando alguma história. Eu sabia o que estava acontecendo, mas quis fingir que não, por isso ainda esperava te ouvir chamando alguém para conversar e tomar um café. Fiquei alguns segundos ali parada, te olhando, abraçada em alguém e pensando que a gente não tem mesmo controle de nada. É estranho pensar que eu, com 25 anos, já tenha passado por isso umas dez vezes e isso nunca ficar mais fácil. Nunca. Cheguei à conclusão que a gente só aprende a suportar o insuportável. Aprende a lidar com a dor, com a sensação de sufocamento, com o aperto no peito, com o desespero de não ver mais alguém que ama... e vai ficando mais forte. É tipo um exercício físico: vamos treinando e aprendendo a carregar pesos cada

Souvenir

Neste momento percebo que guardo lembranças como se fossem suvenirs de viagens passadas. Guardo numa caixa tentando não perder. Às vezes quero jogar alguma coisa fora, mas a caixa não tem fundo e as lembranças se misturam lá dentro. É difícil encontrar ou alcançar algumas coisas, outras são difíceis de esquecer. Eu tenho medo de perder o suvenir da voz da vó Iolanda, ou da cor dos olhos da vó Olívia, ou da sensação da mão gelada do vô Hercílio no meu rosto, me reconhecendo pelos meus traços e voz. Eu tenho medo dessas coisas importantes se perderem no buraco negro da minha caixa sem fundo, mas por algum motivo ainda guardo suvenirs inúteis como do número do primeiro celular do meu pai, que ele comprou quando eu ainda era criança e que de tão grande e pesado precisava de uma bolsinha só pra ele. Eu queria só guardar o souvenir da gargalhada da minha madrinha e da voz dela nos telefonemas de aniversário, que ela nunca esqueceu, mas guardo também a imagem de um monte de flores onde ni

Ciclos de tinta

Às vezes me sinto desenhando círculos. Me sinto uma caneta que desenha sempre a mesma coisa, sem ter como apagar. Já achei que devia usar a tinta escrevendo, depois descobri que prefiro desenhar. Escrevi, escrevi, risquei tudo e joguei fora. Também já desejei que a tinta acabasse, já desejei não mais riscar. Hoje desejo aprender a riscar coisas novas: quadrados, linhas, letras, fazer desenhos bonitos… mas continuo desenhando círculos. Texto desenvolvido na Oficina Literária Boca de Leão .