A Valsa

"Nós queremos uma valsa
 Uma valsa para dançar..."

Foram 54 anos de valsas dançadas. No início eles dançavam sozinhos, mas aos poucos foi surgindo uma ciranda ao redor do casal. Vieram os filhos, depois os netos e bisnetos. Tantas vozes cantando uma mesma valsa e fazendo ciranda para que eles dançassem... 

A ciranda rodando e os dois dançando. Cinquenta e quatro anos e ela parou de dançar. O que aconteceu? Flores, lágrimas, velas. Foi em 1 de agosto de 2004.

Ele ficou sozinho no salão, mas a vida continua e ele não podia parar de dançar. A valsa continuava tocando, e, mesmo sem par, ele dançava.


"Mas se a valsa morrer
  Que saudade que a gente vai ter..."


Toda vez que eles cantavam e a ciranda rodava, ele cantava junto, baixinho, suspirando. Fechava os olhos e imaginava que ela estava com ele mais uma vez. Um passinho pra cá e outro pra lá, mesmo quando o corpo já não correspondia tão bem...

Quase seis anos depois, no dia 14 de junho de 2010, ele parou de dançar também. E agora? Flores, lágrimas e velas. Um adeus embalado pelas mesmas vozes que cantavam as mesmas músicas que ele tanto gostava. A valsa continua, mas não tem mais quem dance por aqui. 

Machuca saber que a ciranda acabou, mas as vozes continuam cantando porque sabem: os dois se encontraram de novo, para dançar de novo. Agora não podemos mais ver a valsa, mas continuamos cantando. Podemos sentir.

"Num passinho de valsa que vem e que vai
  Mamãe quer dançar com papai..."

Nós queremos uma valsa (Carlos Galhardo)

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