Crepúsculo


Tô procurando uma caneta pra escrever, tô procurando um papel pra rabiscar, tô procurando um livro pra ler, tô procurando e não consigo me encontrar. Tô procurando algo pra esquecer, tô procurando o tempo pra voltar, tô procurando alguém pra entender, tô procurando minhas histórias pra contar.
Não me encontro mais, e quase desisti. É um crepúsculo vermelho-sangue, um mar de olhos já com ondas prestes a se arrebentar. Tô procurando o fim de tarde, to vendo o azul e esperando o laranja. Tô procurando alguém que escute o que tenho pra falar.
Contar que minhas feridas ainda abertas nunca cicatrizam. Que às vezes me sinto dormente, outras vezes a dor aguda me corta. Poucos conhecem os reais motivos, pouquíssimos já viram o que há por trás da máscara.
Tiro lições de tudo que vivo. Se vivo, tem um motivo. Descubro o motivo e faço dele lição. Por esses dias, fazem mais 365 dias que procuro lições. Por esses dias, fazem 1095 dias que não sou mais a mesma.
Eu estou olhando pro azul, esperando o vermelho-sangue. São mais 365 dias que vivo um segundo de cada vez. São 1095 dias que não deixo minha luz se apagar.
São tantos mil dias que aprendi a valorizar um sorriso, e olhar o crepúsculo sem querer chorar.

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